quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Capítulo 1

Só, caminhava e pensava - extinta qualidade humana de processar informações - "...nada mais me choca, me comove. As notícias são todas velhas e remoídas, o mundo é velho. Mas não o velho sábio que eu abracei no sonho, só um velho tosco, que da vida só viu prazeres instantâneos, não conseguiu amar, nem sequer deixou ser amado por quem quer que o tentasse, viveu a apenas para ser visto a qualquer custo. Se fosse a algum tempo atrás não teria eu menor sofrimento, a vida se tornou o nada além da espera da morte.
Prazeres sem sentido nos fazem distrair, e a cada passo que dou reparo o quão duro pode ser não simplesmente o viver e padecer das pobrezas do mundo, mas o desconsolo infindo que vem do nada querer e da eterna busca de uma curta vida pela trilha a seguir sem que se saiba que por ela vai (para que não se revolte com as margens e o caminho descrito por elas e busque outra vez o sem rumo).
A violência é o caminho do agora, junto com todos os prazeres que se mostraram nas casas mais perversas dos contos Sade.
Deus perdeu todo o poder, a ponto que posso mesmo cuspir em sua boca que me venha qualquer culpa ou arrependimento, diagnostico-me um psicopata religioso, e é o que me salva, pois o diagnóstico vindo do eu prova que não o sou por inteiro (mesmo a palavra salva o provaria)."
A alguns passos a frente encontra duas belas jovens que conversam, como nada o impede, as vê e as ouve: "é mas um dia ele vai me pagar", "Pois saiba que eu concordo!", "Não dá mais pra aceitar mesmo todas as vezes são as mesmas histórias, só quer ficar em casa assistindo TV, eu ainda sou muito nova, tenho mais é que aproveitar a...da... hhahaha... bem... " Ficou distante demais para ouvir o final da conversa. Por isso pensou: "E o que é aproveitar a vida afinal, devaneio durante dias a fio a fim de nada, será a TV em casa, o nada a fazer, a espera da morte a distração ideal? Afinal de contas, qual seria a diferença, a TV, o sexo, o álcool as drogas, são todas distrações em igual peso para mim... que em toda forma não vejo sentido, são apenas os sentidos que se divertem."
Mais a frente, um cão, coberto de roupas, chama a sua atenção.