quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Texto que encontrei como está há anos atrás...

Abrindo os olhos viu o dia chuvoso, era manhã de terça. Tudo era como deveria ser, a chuva em meados do verão, a hora certa de acordar, a roupa certa a vestir. Levantou-se, pé a pé, vestiu-se. Enquanto vestia-se notara que seus pés eram demasiado fortes e calejados, deveras assim o eram devido a tantos anos de sapatos sociais e meias finas, porém naquela manhã como em alguma outra jamais ocorrera: notara.
“Quantos anos de aperto passaram à que chegassem neste estado, devem de certo estar cansados, vejo que me pedem dias descalços. Certamente dar-vos-ei, mas não por hoje, ainda tenho a jornada a cumprir. O que será daquela fábrica sem que eu a faça rodar.”
E estava certo, a fábrica em que trabalhava era grande, automatizada e lucrativa, mas nada ali funcionava sem que chegasse a seu posto e desse o comando. Os dias eram infindos, o tempo parecia não passar, até que notasse e arrancasse de uma vez duas às vezes três folhas do calendário, aquilo lhe doía na alma. Sabia que cada folha era vida.